terça-feira, 25 de novembro de 2014

A denúncia em foto: A expedição fotográfica de Alice Harris no Congo Belga

Mais do que exploração e maus tratos: Desumanidade! O imperialismo que entrou em cena a partir da tão famosa Conferência de Berlin (1885) foi e ainda é muito abrandado no universo escolar e até acadêmico. Falamos: "A África foi dividida entre as potências europeias", mas não entramos em detalhes como a instalação do regime de exploração nos territórios africanos, as resistências das populações locais e as vozes dissonantes na própria Europa contra este contexto da história ocidental. Não esqueçamos que, devido à esta intensa exploração, a Europa subdesenvolveu a África (esta frase não é nossa, mas de autoria de Walter Rodney em sua obra Como a Europa subdesenvolveu a África).
A seguir, mostramos algumas fotografias tiradas pela equipe de Alice Seeley Harris, uma missionária inglesa no continente africano que, nos últimos do século XIX, viajou pelo État indépendent du Congo (Estado Independente do Congo - a colônia belga) e registrou as atrocidades que o governo belga praticava com as populações nativas. Estas fotos serviram como símbolos para o combate à exploração colonial praticada por diversas nações europeias na África.

Bolomboloko, foi baleado no punho esquerdo por um guarda da borracha



Nativos algemados na cadeia de Bauliri, esta punição era comum àqueles que não pagassem seus impostos



Um missionário sueco e um jovem Kongo (um grupo cultural da região) 
com a mão mutilada a pedido da companhia que extraía borracha na região


Isekausu, teve sua mão decepada por um dos guardas da borracha


Nativo observa uma mão e um pé decepados de sua filha

Para maiores informações sobre o contexto histórico destas atrocidades no Congo belga, vide:

HOCHSCHILD, Adam, O fantasma do rei Leopoldo: Uma história de cobiça, terror e heroísmo na África Colonial. São Paulo, trad. Beth Vieira, Companhia das Letras, 1999.

E acesse o endereço eletrônico da exposição "'Quando a harmonia foi para o inferno', diálogos do Congo: Alice Seeley Harris e Sammy Baloji" de 2014-2015 em Londres que retoma estas fotos, clicando no ícone abaixo.  


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O trabalho nas ruas no Brasil escravista do século XIX: Uma visão de Jean-Baptiste Debret

Como, numa postagem anterior, falamos sobre Debret e seu pensamento sobre o mulato, mostraremos agora suas impressões sobre o cotidiano nas ruas do Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX. Tenha em mente que as reproduções das imagens do pintor não são representações fidedignas da realidade urbana daquela época. As imagens são passíveis de leitura como os textos, mas este processo nos requer um arcabouço de ferramentas diferenciado.
As imagens e o trecho aqui apresentados são da famosa obra Voyage pittoresque et historique au Brésil (Viagem pitoresca e histórica ao Brasil) publicada, pela primeira vez, em 1834, neles aparecem representações de Jean-Baptiste Debret sobre a população negra e suas ocupações.

Os refrescos do Largo do Palácio

Negros de carro

Loja de barbeiros


"Barbeiros ambulantes

      Relegados, em verdade, para o último degrau da hierarquia dos barbeiros, esses Fígaros nômades sabem, entretanto, tornar sua profissão bastante lucrativa, pois, manejando com habilidade navalha e tesouras, consagram-se à faceirice dos negros de ambos os sexos, igualmente apaixonados pela elegância do corte de seus cabelos. Compenetrados e sagazes, vagueiam desde manhã pelas praias, nos pontos de desembarque, pelo cais, nas ruas e praças públicas, ou em torno das grandes oficinas, certos de encontrar clientes entre os negros de ganho (carregadores, moços de recados, os pedreiros, os carpinteiros, os marinheiros e as quitandeiras).
      Um pedaço de sabão, uma bacia de cobre de barbeiro, quebrada ou amassada, duas navalhas, uma tesoura, embrulhados num lenço velho à guisa de maleta, eis os instrumentos com que lidam os jovens barbeiros, apenas cobertos de trapos quando pertencem a um senhor pobre, e sempre dispostos, onde quer que se encontrem, a aperfeiçoar seu talento à custa dos fregueses confiantes, que consentem em entregar-lhes a cabeleira ou o queixo.
    Alguns, entretanto, mais hábeis, dotados mesmo do gênio do desenho, distinguem-se pela variedade que sabem dar ao corte de cabelo dos negros de ganho, sobre a cabeça dos quais desenham divisões pitorescas, formadas por chumaços de cabelos cortados com a tesoura e separados uns dos outros por pedaços raspados a navalha e cujo colorido mais claro lhes traça o contorno de uma maneira nítida e harmoniosa.
      Aparentemente vagabundos, são no entanto obrigados a se apresentar duas vezes por dia na casa de seus senhores, para as refeições e para entregar o resultado da féria.
      Outros sabem aliar a vivacidade à destreza e conseguem maiores resultados postando-se em certos dias e certas horas na estrada de Mata-Porcos a São Cristóvão, pois aí encontram as tropas que chegam de São Paulo e Minas e cujos tropeiros, após uma longa viagem, se mostram sempre dispostos a cortar a barba para entrar mais decentemente no Rio.
      A cena aqui desenhada [a seguir] passa-se nas proximidades do Largo do Palácio, perto do mercado de peixe. Dois negros de elite estão sentados no chão; a medalha do que está ensaboado indica sua função na alfândega. Ambos aguardam, numa imobilidade favorável a seus barbeiros, o momento de remunerar-lhes a habilidade com a módica importância de dois vinténs."

(DEBRET, Jean-Basptiste, "Barbeiros ambulantes", in: _____, Viagem pitoresca e 
histórica ao Brasil. São Paulo, Círculo do Livro, [1834] s/d., p. 185)





Barbeiros ambulantes

Debret capta o cotidiano à sua maneira, por isso, propomos a você que relacione as figuras principais das obras com a paisagem, isto é, o que está acontecendo atrás da cena. É comum ver escravos trabalhando nas ruas para Debret, a partir disso, o que fariam os brancos? Onde estariam?

O mulato em Debret

Todos alguma vez ouvirão falar de Debret, se não ouvirem, pelo menos de suas obras falarão mesmo sem saber a autoria. Jean-Baptiste Debret integrou a Missão Artística Francesa no Brasil no século XIX. Ele passou quinze anos aqui e retratou, para as elites da época, a população e os costumes daquilo que seria o Brasil. Havia uma preocupação muito grande em como um país recém-independente como o nosso pudesse formar uma nação com uma grande população negra sem falar na indígena. A escravidão é um marco que nos influencia até hoje em muitas posturas que diversos grupos tomam. A seguir, reproduzimos um trecho do livro Viagem pitoresca e histórica ao Brasil de Debret (publicado pela primeira vez no ano de 1834) onde ele escreve e representa graficamente aquilo que ele julga necessário da, até então, população brasileira. O texto fala sobre o mulato e seu caráter na visão do autor, bem como uma possível proposta de integração da população mestiça e a formação de uma nação brasileira.

Autorretrato de J.-B. Debret publicado em sua obra 
Voyage pittoresque et historique au Brésil.




"Caráter do mulato

Mulato dito homem de cor, mestiço de negra com branco.

      É o mulato, no Rio de Janeiro, o homem cuja constituição pode ser considerada mais robusta: esse indígena, semi-africano, dono de um temperamento em harmonia com o clima, resiste ao grande calor.
      Ele tem mais energia do que o negro, e a parcela de inteligência que lhe vem da raça branca para orientar mais racionalmente as vantagens físicas e morais que o colocam acima do negro.
      É naturalmente presunçoso e libidinoso, e também irascível e rancoroso, oprimido, por causa da cor, pela raça branca, que o despreza, e pela negra, que detesta a superioridade de que ele se prevalece.
      O negro, com efeito, afirma que o mulato é um monstro, uma raça maldita, porque, na sua cabeça, Deus a princípio criou apenas o homem branco e o homem negro. Este raciocínio, completamente material, repercute entretanto na sociedade política do Brasil, onde o mulato mais ou menos civilizado tende sempre a libertar-se da posição indecisa que o branco lhe assinala na ordem social.
     A cisão provocada pelo orgulho americano do mulato, de um lado, e a altivez portuguesa do brasileiro branco, de outro, é motivo de uma guerra de morte que se manifestará durante muito tempo ainda, nas perturbações políticas, entre essas duas raças rivais por vaidade.
      Uma terceira razão de desentendimento contribui ainda para desunir os homens brancos no Brasil: é a presunção nacional de português da Europa, envaidecido de seu país, que não sabe compreender a diferença de cor da geração brasileira, que a trata ironicamente de mulata, sem distinção de origem. Foi o abuso dessa expressão pouco política que serviu de pretexto aos movimentos revolucionários que precederam a abdicação de Dom Pedro I.
      Somente a civilização poderá destruir esses elementos de desordem: materialmente, pela mistura mais frequente dos dois sangues, e moralmente, pelo progresso da educação, que retifica a opinião pública e a induz a respeitar o verdadeiro mérito onde quer que se encontre.
      A classe dos mulatos, muito acima da dos negros pelas suas possibilidades naturais, encontre, por si mesmo, maiores oportunidades para libertar-se da escravidão; ela é que fornece, com efeito, a maior parte dos operários qualificados; é ela também a mais turbulenta e, por conseguinte, a mais fácil de influenciar a fim de fomentar essas agitações populares de que um dia ela deixará de ser um simples instrumento, pois, examinando-se esses mestiços no seu estado de perfeita civilização, particularmente nas principais cidades do império, já se encontram inúmeros gozando da estima geral que conquistaram com seu êxito nas ciências e nas artes, na medicina ou na música, nas matemáticas ou na poesia, na cirurgia ou na pintura, êxitos cuja utilidade ou encanto deveriam constituir um título a mais e prol do esquecimento futuro dessa linha de demarcação, que o amor-próprio traçou, mas que a razão deverá apagar um dia."

(DEBRET, Jean-Basptiste, "Caráter do mulato", in: _____, Viagem pitoresca e 
histórica ao Brasil. São Paulo, Círculo do Livro, [1834] s/d., p. 141-2)


Como todo documento histórico, este trecho está carregado de intensões e pode, assim como os desenhos de Debret, nos mostrar as opiniões que o pintor tinha sobre o Brasil da primeira metade do século XIX, mais precisamente do Rio de Janeiro dessa época.
Debret tem uma visão interessante e completamente deturpada da realidade ao afirmar em seu texto que é o negro que exclui o mestiço da sociedade, enquanto o branco oferecia tanta liberdade que até o empregava em cargos na ordem social. Propomos a você que, após ler o trecho, volte a ele e procure a visão de Debret sobre como se daria a integração do negro e da população mestiça na sociedade brasileira, tente entender as justificativas e os exemplos dado pelo autor. Esse pensamento ainda tem uma influência hoje?


terça-feira, 21 de outubro de 2014

“O perigo de uma única história” de Chimamanda Adichie

"Eu [Chimamanda Ngozi Adichie] sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar 'o perigo de uma história única'.
Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com dois anos, mas eu acho que quatro é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos. Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos sete anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs. (Risos da plateia) E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido. (Risos da plateia), apesar do fato que eu morava na Nigéria.
Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário. Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tivesse a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. (Risos da plateia) E por muitos anos depois, eu desejei desesperadamente experimentar cerveja de gengibre. Mas isso é outra história. A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis em face de uma história, principalmente quando somos crianças. [...]".



Chimamanda é autora de diversas obras com algumas traduções 
para o português como Meio sol amarelo  e Hibisco roxo


O que será que Chimamanda vai nos contar sobre "o perigo de uma história única"? Este pensamento da escritora nos mostra como são responsáveis pelo racismo e pelos estereótipos não só aqueles que produzem os discursos preconceituosos e mal fundamentados, mas também aqueles que os escutam e não buscam interrogá-los ou criar outros discursos.


Para assistir ao vídeo, basta clicar abaixo:



Para ter acesso à transcrição completa do mesmo, basta clicar no ícone abaixo:



Uma experiência de empatia: "Olhos azuis"

E se o racismo fosse sobre quem, sem perceber, o reproduz? Jane Elliott, uma professora, decide fazer uma experiência após ler sobre o nazismo e sua política de eugenia. A professora realiza, com sua turma, uma atividade que duraria apenas um dia, afirma ela. Jane cria uma situação de segregação em sua classe onde, alternadamente, pessoas com "olhos azuis" e pessoas com "olhos escuros" seriam alvo. Isto provoca nas crianças diversas reações, o que chama a atenção da docente. Esta experiência tem inúmeras implicâncias nas vidas da professora e de seus alunos.
O documentário Olhos azuis aborda um dos workshops que Jane Elliott realiza nos Estados Unidos. O impacto dele nos participantes é indescritível. Assista o filme e surpreenda-se como o preconceito é criado e como ele se perpetua até hoje.

Imagem retirada do filme

Imagem retirada do filme


Para assistir ao filme, basta clicar no ícone abaixo.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Um poema musicalizado: "Gritaram-me negra"

Victoria Santa Cruz

Tenía siete años apenas,
apenas siete años,
¡Que siete años!
¡No llegaba a cinco siquiera!

De pronto unas voces en la calle
me gritaron ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!

“¿Soy acaso negra?”
Me dije ¡SÍ!
“¿Qué cosa es ser negra?”
¡Negra!
Y yo no sabía la triste verdad que aquello escondía.
¡Negra!
Y me sentí negra
¡Negra!
Como ellos decían
¡Negra!
Y retrocedí
¡Negra!
Como ellos querían
¡Negra!
Y odié mis cabellos y mis labios gruesos
y miré apenada mi carne tostada
Y retrocedí
¡Negra!
Y retrocedí…
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Neeegra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!

Y pasaba el tiempo,
y siempre amargada
Seguía llevando a mi espalda
mi pesada carga
¡Y cómo pesaba! ...
Me alacié el cabello,
me polveé la cara,
y entre mis cabellos siempre resonaba
la misma palabra
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Neeegra! 
Hasta que un día que retrocedía,
retrocedía y que iba a caer
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! 
¿Y qué?

¿Y qué?
¡Negra!
¡Negra!
Soy
¡Negra!
Negra
¡Negra!
Negra soy

¡Negra!
 Sí
¡Negra!
Soy
¡Negra!
Negra
¡Negra!
Negra soy

De hoy en adelante no quiero laciar mi cabello
No quiero
Y voy a reírme de aquellos,
que por evitar – según ellos –
que por evitarnos algún sinsabor
Llaman a los negros gente de color
¡Y de qué color!
NEGRO
¡Y qué lindo suena!
NEGRO 
¡Y qué ritmo tiene! 
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO

Al fin
Al fin comprendí
AL FIN 
Ya no retrocedo
AL FIN 
Y avanzo segura
AL FIN 
Avanzo y espero
AL FIN
Y bendigo al cielo porque quiso Dios
que negro azabache fuese mi color
Y ya comprendí
AL FIN
Ya tengo la llave

NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO
¡Negra soy!



Para assistir o poema musicalizado, clique no vídeo abaixo.



Uma história diferente: "Vista minha pele"!

E se a história fosse diferente, o negro tivesse escravizado o branco? O diretor Joel Zito Araújo decidiu criar esta realidade em seu filme "Vista minha pele", uma ótima reflexão para que as pessoas façam. Onde será que está o problema? É em ter um determinado tom de pele? Ou ser ainda marginalizado por um momento histórico que tem um grande impacto na formação de nosso país? Muitas perguntas podem ser formuladas ao assistirmos este filme.

Imagem retirada do filme

Imagem retirada do filme

O site Cinema&Educação fez uma sinopse que, com o devido crédito, a reproduzimos abaixo:

"Trata-se de uma paródia da realidade brasileira, para servir de material básico para discussão sobre racismo e preconceito em sala-de-aula. Nessa história invertida, onde os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados. Os países pobres são, por exemplo, Alemanha e Inglaterra, e os países ricos são, por exemplo, África do Sul e Moçambique.

Maria, é uma menina branca pobre, que estuda num colégio particular graças à bolsa-de-estudos que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira nesta escola. A maioria de seus colegas a hostilizam, por sua cor e por sua condição social, com exceção de sua amiga Luana, filha de um diplomata que, por ter morado em países pobres, possui uma visão mais abrangente da realidade.
Maria quer ser Miss Festa Junina da escola, mas isso requer um esforço enorme, que vai desde a predominância da supremacia racial negra (a mídia só apresenta modelos negros como sinônimo de beleza), a resistência de seus pais, a aversão dos colegas e a dificuldade em vender os bilhetes para seus conhecidos, em sua maioria muito pobres. Maria tem em Luana uma forte aliada e as duas vão se envolver numa série de aventuras para alcançar seus objetivos.
Vencer ou não o Concurso não é o principal foco do vídeo, mas sim a disposição de Maria em enfrentar essa situação. Ao final ela descobre que, quanto mais confia em si mesma, mais possibilidades ela tinha de convencer outros de sua chance de vencer."


Para assistir ao filme, basta clicar abaixo.



"Na rota dos orixás"

"Atlântico negro: Na rota dos orixás" é um documentário que busca unir o que a escravidão e o tráfico negreiro separou: as manifestações culturais africanas. Esquecemos, muitas vezes, que as pessoas trazidas da África são pessoas. Parece banal dizer isso, mas não é! A visão que ainda temos sobre o período da escravidão é que o senhor de engenho mandava e o escravizado obedecia silenciosamente. Poucos materiais mostram a resistência e a humanidade destas pessoas que foram, injustamente, maltratadas. A religião é uma grande referência que nos mostra o que da África veio para a América. Este documentário apresenta através da fala de especialistas e de praticantes as relações entre o candomblé e o culto dos voduns, dentre outras relações que deixaremos que você estabeleça ao assistir.

Imagem retirada do documentário. (República do Benin)


Imagem retirada do documentário. (República Federativa do Brasil)


O professor Dr. Luís Nicolau Parés, docente da Universidade Federal da Bahia e pesquisador de universidades estrangeiras como Free University of Amsterdam e University of Manchester, escreveu uma resenha sobre o documentário que deixaremos a referência abaixo também.

PARÉS, Luís Nicolau, "Atlântico Negro - Na rota dos orixás. Brasília, 1997. Filme documentário...", in: Afro-Ásia. Centro de Estudos Afro-orientais, Universidade Federal da Bahia, n. 21-2, 1998-9, p. 367-75.

Para ler o texto, basta clicar no ícone abaixo.


Para assistir ao documentário, basta clicar abaixo.


A gênese do pensamento racialista e racista

A soma de vários fatores favoreceu, por um lado, o entendimento da escravidão como uma instituição indigna, retrógrada, aviltante, que levou à rejeição desta forma de trabalho até sua total extinção na Europa e na América. Mas, por outro lado, os mesmos conceitos que ofereceram a base de apoio para a condenação da escravidão abriram caminho para o surgimento de teorias que hierarquizavam os homens de acordo com sua “raça” e cultura (SANTOS, 2005, p. 15).
O trecho acima parece contraditório ou um pouco confuso, mas é uma formulação bem característica quando falamos de Iluminismo. Este modo de pensar possuía em seu âmago contradições que foram se manifestando em debates ao longo do tempo e que, para nós do presente, parecem absurdas quando olhamos com as lentes dos anos dois mil.
No século XVIII, o Iluminismo formulou uma nova maneira de pensar a natureza para além do estudo das espécies, ele buscava a investigação dos indivíduos[1]. Mas, para isso, era necessário um novo paradigma para o conhecimento que abarcasse tal complexidade de estudo, requisito este que somente a biologia comportaria. O objetivo principal não era desvendar os mistérios do mundo, mas descrevê-los[2], por isso, discussões como o conceito de humano, a origem dos indivíduos e as diferenças entre eles foram constantes no pensamento da época.
Para chegar-se ao conhecimento era necessário mais um item que, para a época, fazia-se indispensável: o entendimento das regras universais que estariam presentes nos múltiplos fenômenos naturais[3]. No entanto, havia aqueles que contestavam esta formulação. Um deles foi David Hume que alegava que “a regularidade da natureza nada mais é do que o reflexo da necessidade psicológica do homem, que precisa nela crer para edificar todo e qualquer conhecimento”[4]. Sendo isso verdade ou não, não nos cabe, no momento, discutir, atentemo-nos ao tema.
Como já dito, aconteceram várias discussões acerca do ser humano, uma delas foi sobre o seu conceito. O que é ser humano? Na Encyclopédie, Diderot assina o verbete “homem” no qual ele considera “que o homem é um ser que sente, reflete, pensa, que passeia livremente pelo planeta”, que vive em sociedade, inventou “as artes, as ciências e as leis e [que,] além disso[,] teria uma bondade que lhe seria própria”[5].
Mas há um problema neste conceito de homem, porque ele não abrange os negros escravizados, já que eles não podem passear “livremente pelo planeta”. O conceito de Diderot cria um conceito de homem ideal, logo os que não são desta maneira são inferiores, gerando assim a, ridícula, hierarquização em “raças”.
Tanto Diderot quanto Voltaire e Buffon (grande influenciador dos anteriores) defendiam a ideia de uma unidade humana, uma espécie, porém discordavam sobre a origem das diferenças apresentadas entre os indivíduos que a compõem[6].
No mesmo livro já citado (Encyclopédie), Diderot no verbete “espécie humana” escreve que o homem “apresenta três tipos de variações, uma é a cor; a segunda é a da grandeza e da forma; a terceira é a das diferenças naturais entre o povos”[7], Buffon não vai tão longe e também enumera três grandes grupos de diferenças que se verificam na espécie humana: a cor (cabelos, olhos, e pele), a forma e o tamanho (dimensões e proporções do corpo, estrutura do rosto) e os costumes e as inclinações[8]. Já para Voltaire[9], a espécie humana teve origens diferentes, cada uma resultando num “tipo” de homem[10], sendo que a unidade para poder formar a espécie estaria nos sentimentos de “bondade e justiça necessários à sobrevivência, mas dispostos em estados de desenvolvimento racional diferentes”[11]. Mas por que os costumes devem ser enumerados como uma das principais diferenças? Ora, meu caro leitor, os costumes traduzem “as capacidades de interferência do homem no meio”[12], desse jeito pode-se elencar a questão da racionalidade e da dominação da natureza, criando-se o abominável pensamento de que quem domina a natureza de uma forma mais abrangente seria superior aos demais.
Voltaire, em seu Tratado de Metafísica, apresentou a seguinte descrição do negro:
um animal preto, que possui lã sobre a cabeça, caminha sobre duas patas, é quase tão destro quanto um símio, é menos forte do que outros animais de seu tamanho, provido de um pouco mais de ideias do que eles e dotado de maior facilidade de expressão. Ademais, está submetido igualmente às mesmas necessidades que os outros, nascendo, vivendo e morrendo exatamente como eles (Retirado de SANTOS, 2005, p. 27).
Eis aqui, uma das obras que fundaram o pensamento racialista na Europa. Outra formulação, novamente na Encyclopédie, no verbete “negros” traz uma nova interpretação que para a época foi algo extremamente iluminador:
O fenômeno o mais marcado e a lei a mais constante sobre a cor dos habitantes da Terra é que, toda esta larga banda que cerca o globo do oriente ao ocidente que se chama zona tórrida, não é habitada senão por povos negros (Extraído de SANTOS, 2005, p. 33).
Foi desenvolvida a relação entre as diferenças físicas humanas e as diferenças geográficas da natureza. Com o estabelecimento desta relação foi possível fundar a ideia racialista e difundi-la para o mundo todo, porque, agora, os pensadores argumentavam que a natureza influencia as estruturas físicas humanas, portanto, o uso da razão, por isso, aqueles que melhor utilizassem sua razão para dominar ou controlar a natureza que os influenciam seriam os mais desenvolvidos. Os iluministas conseguiram formular uma teoria que justificou e ainda, infelizmente, justifica verdadeiras chacinas.
As ideias ruins não param por aí. Formulou-se também a teoria de que uma sociedade mais perfeita seria aquela que, além de melhor dominar a natureza, teria a melhor “raça”. Mas por que as pessoas aceitavam isso? Acreditava-se que haveria uma ordem natural onde os brancos seriam naturalmente superiores aos outros.
Há uma ordem que não é imposta por nenhum ser transcendente e não corresponde a nenhum finalismo, mas é encontrada na própria forma como os arranjos naturais ocorrem e ocorreram. Mais do que uma ordem natural e universal, seria uma necessidade natural e universal responsável pela estabilidade do mundo. Não é preciso buscar a compreensão do porquê das coisas estarem onde estão, ou do que ou por que são como são ou quem as dispôs desta forma. Basta saber que elas obedecem a este princípio e de que são, portanto, inteligíveis. / Esta ordem aplica-se a todos os seres da natureza. / Na base da ideia de ordem está a noção de progresso. / Se a ordem define uma certa estabilidade na natureza, o progresso imprime-lhe movimento. Crer no progresso equivale a crer na perfeita liberdade de movimento do homem, negada pela natureza, que o delimita biologicamente (SANTOS, 2005, p. 39).
Eis o nascimento do maldito pensamento racialista e racista que, infelizmente, como já cansamos de ver, está no presente. Devemos combatê-lo e entendendo sua gênese já é um grande passo dado. Para saber mais sobre a história deste pensamento, leia:

SANTOS, Gislene Aparecida dos, A invenção do “ser negro”: Um percurso das ideias que naturalizaram a inferioridade dos negros. São Paulo, Educ/Fapesp; Rio de Janeiro, Pallas, 2005. 176 p.






[1] SANTOS, 2005, p. 24.
[2] Ibid., p. 25.
[3] Ibidem.
[4] Ibid., p. 24.
[5] Ibid., p. 25.
[6] SANTOS, 2005, p. 29.
[7] Extraído de SANTOS, 2005, p. 29.
[8] SANTOS, 2005, p. 30.
[9] Em seu Tratado de Metafísica.
[10] SANTOS, 2005, p. 30.
[11] Vide nota de rodapé da página 30 em SANTOS, 2005.
[12] Ibid., p. 31.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Adivinhação e mitologia no candomblé nagô

Yoruba ou o aportuguesado Iorubá é a denominação de um grupo cultural tradicional africano. Sua concentração demográfica dá-se na Nigéria. Os Yoruba são também conhecidos como Nagô no Benin e aqui no Brasil. Durante o período da escravidão, seres humanos eram vendidos com este rótulo pelos mercadores.
A diáspora yoruba nas Américas concentrou-se principalmente no Estado da Bahia, aqui no Brasil. A formação de centros religiosos desde a época colonial de nosso país por parte dos escravizados nos mostra um grande desejo de manter os valores culturais tradicionais que eles trouxeram de sua terra natal. Há, na Bahia, diversos terreiros que reivindicam para si e se autoafirmam de tradição nagô, dentre eles estão o Axé Opô Afonjá e a Casa Branca do Engenho Velho.

Axé Opô Afonjá

Casa Branca do Engenho Velho

Nestes terreiros, a religião cultivada é o candomblé que, no caso nagô, possui como divindades os orixás.
"Para os iorubás tradicionais e os seguidores de sua religião nas Américas, os orixás são deuses que receberam de Olodumare ou Olorum, também chamado Olofim em Cuba, o Ser Supremo, a incumbência de criar e governar o mundo, ficando cada um deles responsável por alguns aspectos da natureza e certas dimensões da vida em sociedade e da condição humana" (PRANDI, 2013, p. 20).
Integram esta lista de divindades nomes muito conhecidos de nós como Exu, Iemanjá, Xangô e Obatalá. Faremos um post em breve só sobre os orixás nagô.
Um orixá de destaque na África é Orunmilá ou Ifá, o Adivinho. No candomblé, acredita-se que os seres humanos descendem dos orixás, não como uma origem comum, na verdade, cada indivíduo possuiria características do orixá do qual descende. Os filhos de Ifá são chamados de babalaôs ou pais do segredo. Eles são introduzidos na adivinhação pelos búzios. Esta prática cultural, no Brasil, é bem conhecida do senso comum, mas, na África, é praticada por pouquíssimos.

Jogo de búzios para adivinhação

"Para os iorubás antigos, nada é novidade, tudo o que acontece já teria acontecido antes. Identificar no passado mítico o acontecimento que ocorre no presente é a chave da decifração oracular" (PRANDI, 2013, p. 18).
Os babalaôs, para poderem realizar a adivinhação, necessitam estudar e aprender os Odus, são narrativas que contém problemas que envolvem orixás, seres humanos e animais com um fundo moral. Se fossem postos em livro, os odus teriam dezesseis capítulos com vários segmentos cada um. Ao jogar os dezesseis búzios, o babalaô saberá, através da interpretação da posição deles, qual dos dezesseis capítulos e qual segmento está a história que ajudará na resolução do problema da pessoa que o consultou. A palavra é muito importante para diversos grupos africanos, por isso, os odus foram durante muito tempo transmitidos via oral.
No candomblé de origem nagô, a adivinhação e a mitologia estão diretamente ligados, só se poderá adivinhar se conhecer e interpretar o odu corretamente. A seguir, há um mito sobre a adivinhação e seu papel na vida dos seres humanos.

"Exu leva aos homens o oráculo de Ifá

Em épocas remotas os deuses passaram fome.
Às vezes, por longos períodos,
eles não recebiam bastante comida
de seus filhos que viviam na Terra.
Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros
 e lutavam entre si guerras assombrosas.
Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles
e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer.
Como ser novamente alimentados pelos homens?
Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome.
Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra
e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.

Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução.
Exu foi até Iemanjá em busca de algo
que pudesse recuperar a boa vontade dos homens.
Iemanjá lhe disse:
'Nada conseguirás.
Xapanã já tentou afligir os homens com doenças,
mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse:
"Exu matará todos os homens,
mas eles não lhe darão o que comer.
Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens,
mas eles nem se preocupam com ele.
Então é melhor que procures solução noutra direção.
Os homens não têm medo de morrer.
Em vez de ameaçá-los com a morte,
mostra a eles alguma coisa que seja tão boa
que eles sinta vontade de tê-la.
E que, para tanto, desejem continuar vivos'.

Exu retomou o seu caminho e foi procurar Orungã.
Orungã lhe disse:
'Eu sei por que vieste.
Os dezesseis deuses têm fome.
É preciso dar aos homens
alguma coisa de que eles gostem,
alguma coisa que os satisfaça.
Eu conheço algo que pode fazer isso.
É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê.
Arranja os cocos da palmeira e entenda o significado.
Assim poderás reconquistar os homens".
Exu foi ao local onde havia palmeiras
e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos.
Exu pensou e pensou, mas não atinava
no que fazer com eles.
Os macacos então lhe disseram:
'Exu, não sabes o que fazer
com os dezesseis cocos da palmeira?
Vai andando pelo mundo
e em cada lugar pergunta
o que significam esses cocos de palmeira.
Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam
esses cocos da palmeira.
Em cada um desses lugares recolherás dezesseis odus.
Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos.
Cada história tem a sua sabedoria,
conselhos que podem ajudar os homens.
Vai juntando os odus
e ao final de um ano terás aprendido o suficiente.
Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus.
Então volta para onde vivem os deuses.
Ensina aos homens o que terás aprendido
e os homens irão cuidar de Exu de novo'.
Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orum, o Céu dos orixás.
Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido
e os deuses disseram:
'Isso é muito bom'.
Os deuses, então, ensinaram o novo saber
aos descendentes, os homens.
Os homens então puderam saber todos os dias
os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir.
Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê
 e interpretavam o odu que eles indicavam,
sabiam da grande quantidade de mal
que havia no futuro.
Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos orixás
para afastar os males que os ameaçavam.
Eles recomeçaram a sacrificar animais
e a cozinhar suas carnes para os deuses.
Os orixás estavam satisfeitos e felizes.
Foi assim que Exu trouxe aos homens de Ifá."
(PRANDI, 2013, p. 78-80)


Para saber mais, consulte a seguinte obra:

PRANDI, Reginaldo, Mitologia dos orixás. São Paulo, Companhia das Letras, [2001] 2013.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Coleção "História Geral da África" da UNESCO

Publicada em oito volumes, a coleção produzida pela UNESCO conta com mais de trezentos pesquisadores coordenados por 39 especialistas, sendo dois terços deles africanos. Sua versão em português foi realizada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação do Brasil (MEC).


Os volumes abordam os seguintes temas:

I - Metodologia e Pré-História da África
Expõe o papel da História nas sociedades africanas, fontes que podem ser utilizadas para escrever a história do continente, os papéis da arqueologia e da tradição oral, as modificações paisagísticas que o continente sofreu, as ondas migratórias pré-"Homo sapiens", as origens e a expansão das técnicas agrícolas no continente africano.

II - África Antiga
Discute a origem do Antigo Egito, a consolidação do regime faraônico, os reinos concomitantes ao Egito como Kush, a cristianização da Núbia e o domínio romano sobre Cartago e sobre o Egito.

III - África do século VII ao XI
O Islã no continente africano, a expansão bantu, as relações da Etiópia com o mundo muçulmano e a diáspora africana na Ásia.

IV - África do século XII ao XVI
A unificação do Magreb, o império Haussa e o império Songhai.

V - África do século XVI ao XVIII
O reino do Congo, o Zambeze, os Luba e Lunda e as relações do Chade com o Mediterrâneo.

VI - África do século XIX à década de 1880
A investida europeia no continente, as revoluções islâmicas na África, Daomé e Benin e a diáspora africana.

VII - África sob dominação colonial, 1880-1935
A África e o desafio colonial, a partilha da África, resistências africanas, a economia colonial e os impactos do fato colonial.

VIII - África desde 1935
A construção das nações, a literatura moderna no continente, o Pan-africanismo, o socialismo no continente, a África e a ONU, horizontes para o século XXI no continente.

Para baixar a coleção, basta clicar no ícone a seguir.




"A degeneração no pensamento social brasileiro, 1880-1940"

“Inchado, feio, preguiçoso e inerte" são adjetivos utilizados por Monteiro Lobato em seu livro Urupês para designar Jeca Tatu, um caboclo paulista que, devido à mistura das "raças" era um degenerado. As ideias acerca dos tipos físicos humanos mudaram ao longo da História, desde a criação do termo "Raça", passando pela hierarquização, chegando até a grandes chacinas. O ser humano nem sempre soube lidar com as diferenças. Dain Borges, "Diretor do Departamento de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Chicago", dedica-se, principalmente, ao estudo do Brasil no século XIX, onde, não é de se surpreender, os debates sobre a nação brasileira estavam aferventando. Num Estado que nascia em pleno século XIX com uma fortíssima raiz escravista, a questão da miscigenação era um problema pois, segundo pensadores da época, os negros estariam corrompendo os brancos. O texto que sugerimos trata destas questões para um Brasil em formação, mas, ao entendermos alguns pensamentos que tiveram grande irradiação em nosso país, passamos a compreender a situação social atual.
"'INCHADO, FEIO, PREGUIÇOSO E INERTE'”: A DEGENERAÇÃO NO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO, 1880-1940" é um ótimo texto para situar o leitor nos debates que, na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, ocorreram no Brasil. O autor faz uso de diversas obras de nossa literatura e aponta a relação entre a escrita literária e o pensamento social.

Resumo do texto:
"O texto analisa historicamente as discussões sobre 'raça' entre 1880 e 1940 com ênfase no processo de medicalização do pensamento social brasileiro. Borges expõe como, até a década de 1920, predominou o diagnóstico de que a maior ameaça à nação brasileira seria a degeneração até que, na década de 1930, ocorreu uma ruptura deste modelo de compreensão do Brasil e seus cidadãos".

Referência:
BORGES, Dain, "'Inchado, feio, preguiçoso e inerte'": A degeneração do pensamento social brasileiro, 1880-1940", in: Teoria e Pesquisa, n. 47, trad. Richard Miskolci, jul.-dez. / 2005, p. 43-70.

Para ler o texto, basta clicar no ícone abaixo.



O termo "Negritude"

Negritude foi um movimento de libertação cultural que teve como suporte a literatura. O termo criado por Aimé Césaire nos anos 1930 buscava tirar o peso negativo que a designação "negro" possuía. A iniciativa contou com o apoio de diversos escritores africanos de países que falavam o francês. Além de travar uma luta contra o colonialismo, Negritude defendia que a colonização havia alterado as maneiras de pensar das sociedades africanas, por isso, seria necessário um retorno às origens, valorizando as manifestações culturais tradicionais tais como a escultura e a metalurgia, as religiões, a tradição oral e as danças.
A seguir, há duas referências interessantes sobre o assunto, para acessá-las, basta clicar no ícone abaixo de cada uma.

AMORIM, Fernando, "Pan-africanismo intelectual: a utopia possível(?)", in: JANUS, 2010: Anuário de relações exteriores. Disponível em: <http://www.janusonline.pt/popups2010/2010_3_1_3.pdf>, acesso em 12/08/2014 às 10h01min.



CHANDA, Tirthankar, "Aimé Césaire et le mouvement de la Négritude", in: Les voix du Monde. Disponível em: <http://www.rfi.fr/afrique/20130626-aime-cesaire-centenaire-mouvement-negritude/>, acesso em 12/08/2014 às 09h59min.