terça-feira, 21 de outubro de 2014

“O perigo de uma única história” de Chimamanda Adichie

"Eu [Chimamanda Ngozi Adichie] sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar 'o perigo de uma história única'.
Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com dois anos, mas eu acho que quatro é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos. Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos sete anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs. (Risos da plateia) E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido. (Risos da plateia), apesar do fato que eu morava na Nigéria.
Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário. Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tivesse a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. (Risos da plateia) E por muitos anos depois, eu desejei desesperadamente experimentar cerveja de gengibre. Mas isso é outra história. A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis em face de uma história, principalmente quando somos crianças. [...]".



Chimamanda é autora de diversas obras com algumas traduções 
para o português como Meio sol amarelo  e Hibisco roxo


O que será que Chimamanda vai nos contar sobre "o perigo de uma história única"? Este pensamento da escritora nos mostra como são responsáveis pelo racismo e pelos estereótipos não só aqueles que produzem os discursos preconceituosos e mal fundamentados, mas também aqueles que os escutam e não buscam interrogá-los ou criar outros discursos.


Para assistir ao vídeo, basta clicar abaixo:



Para ter acesso à transcrição completa do mesmo, basta clicar no ícone abaixo:



Uma experiência de empatia: "Olhos azuis"

E se o racismo fosse sobre quem, sem perceber, o reproduz? Jane Elliott, uma professora, decide fazer uma experiência após ler sobre o nazismo e sua política de eugenia. A professora realiza, com sua turma, uma atividade que duraria apenas um dia, afirma ela. Jane cria uma situação de segregação em sua classe onde, alternadamente, pessoas com "olhos azuis" e pessoas com "olhos escuros" seriam alvo. Isto provoca nas crianças diversas reações, o que chama a atenção da docente. Esta experiência tem inúmeras implicâncias nas vidas da professora e de seus alunos.
O documentário Olhos azuis aborda um dos workshops que Jane Elliott realiza nos Estados Unidos. O impacto dele nos participantes é indescritível. Assista o filme e surpreenda-se como o preconceito é criado e como ele se perpetua até hoje.

Imagem retirada do filme

Imagem retirada do filme


Para assistir ao filme, basta clicar no ícone abaixo.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Um poema musicalizado: "Gritaram-me negra"

Victoria Santa Cruz

Tenía siete años apenas,
apenas siete años,
¡Que siete años!
¡No llegaba a cinco siquiera!

De pronto unas voces en la calle
me gritaron ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!

“¿Soy acaso negra?”
Me dije ¡SÍ!
“¿Qué cosa es ser negra?”
¡Negra!
Y yo no sabía la triste verdad que aquello escondía.
¡Negra!
Y me sentí negra
¡Negra!
Como ellos decían
¡Negra!
Y retrocedí
¡Negra!
Como ellos querían
¡Negra!
Y odié mis cabellos y mis labios gruesos
y miré apenada mi carne tostada
Y retrocedí
¡Negra!
Y retrocedí…
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Neeegra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!

Y pasaba el tiempo,
y siempre amargada
Seguía llevando a mi espalda
mi pesada carga
¡Y cómo pesaba! ...
Me alacié el cabello,
me polveé la cara,
y entre mis cabellos siempre resonaba
la misma palabra
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Neeegra! 
Hasta que un día que retrocedía,
retrocedía y que iba a caer
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! 
¿Y qué?

¿Y qué?
¡Negra!
¡Negra!
Soy
¡Negra!
Negra
¡Negra!
Negra soy

¡Negra!
 Sí
¡Negra!
Soy
¡Negra!
Negra
¡Negra!
Negra soy

De hoy en adelante no quiero laciar mi cabello
No quiero
Y voy a reírme de aquellos,
que por evitar – según ellos –
que por evitarnos algún sinsabor
Llaman a los negros gente de color
¡Y de qué color!
NEGRO
¡Y qué lindo suena!
NEGRO 
¡Y qué ritmo tiene! 
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO

Al fin
Al fin comprendí
AL FIN 
Ya no retrocedo
AL FIN 
Y avanzo segura
AL FIN 
Avanzo y espero
AL FIN
Y bendigo al cielo porque quiso Dios
que negro azabache fuese mi color
Y ya comprendí
AL FIN
Ya tengo la llave

NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO   NEGRO
NEGRO   NEGRO   NEGRO
¡Negra soy!



Para assistir o poema musicalizado, clique no vídeo abaixo.



Uma história diferente: "Vista minha pele"!

E se a história fosse diferente, o negro tivesse escravizado o branco? O diretor Joel Zito Araújo decidiu criar esta realidade em seu filme "Vista minha pele", uma ótima reflexão para que as pessoas façam. Onde será que está o problema? É em ter um determinado tom de pele? Ou ser ainda marginalizado por um momento histórico que tem um grande impacto na formação de nosso país? Muitas perguntas podem ser formuladas ao assistirmos este filme.

Imagem retirada do filme

Imagem retirada do filme

O site Cinema&Educação fez uma sinopse que, com o devido crédito, a reproduzimos abaixo:

"Trata-se de uma paródia da realidade brasileira, para servir de material básico para discussão sobre racismo e preconceito em sala-de-aula. Nessa história invertida, onde os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados. Os países pobres são, por exemplo, Alemanha e Inglaterra, e os países ricos são, por exemplo, África do Sul e Moçambique.

Maria, é uma menina branca pobre, que estuda num colégio particular graças à bolsa-de-estudos que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira nesta escola. A maioria de seus colegas a hostilizam, por sua cor e por sua condição social, com exceção de sua amiga Luana, filha de um diplomata que, por ter morado em países pobres, possui uma visão mais abrangente da realidade.
Maria quer ser Miss Festa Junina da escola, mas isso requer um esforço enorme, que vai desde a predominância da supremacia racial negra (a mídia só apresenta modelos negros como sinônimo de beleza), a resistência de seus pais, a aversão dos colegas e a dificuldade em vender os bilhetes para seus conhecidos, em sua maioria muito pobres. Maria tem em Luana uma forte aliada e as duas vão se envolver numa série de aventuras para alcançar seus objetivos.
Vencer ou não o Concurso não é o principal foco do vídeo, mas sim a disposição de Maria em enfrentar essa situação. Ao final ela descobre que, quanto mais confia em si mesma, mais possibilidades ela tinha de convencer outros de sua chance de vencer."


Para assistir ao filme, basta clicar abaixo.



"Na rota dos orixás"

"Atlântico negro: Na rota dos orixás" é um documentário que busca unir o que a escravidão e o tráfico negreiro separou: as manifestações culturais africanas. Esquecemos, muitas vezes, que as pessoas trazidas da África são pessoas. Parece banal dizer isso, mas não é! A visão que ainda temos sobre o período da escravidão é que o senhor de engenho mandava e o escravizado obedecia silenciosamente. Poucos materiais mostram a resistência e a humanidade destas pessoas que foram, injustamente, maltratadas. A religião é uma grande referência que nos mostra o que da África veio para a América. Este documentário apresenta através da fala de especialistas e de praticantes as relações entre o candomblé e o culto dos voduns, dentre outras relações que deixaremos que você estabeleça ao assistir.

Imagem retirada do documentário. (República do Benin)


Imagem retirada do documentário. (República Federativa do Brasil)


O professor Dr. Luís Nicolau Parés, docente da Universidade Federal da Bahia e pesquisador de universidades estrangeiras como Free University of Amsterdam e University of Manchester, escreveu uma resenha sobre o documentário que deixaremos a referência abaixo também.

PARÉS, Luís Nicolau, "Atlântico Negro - Na rota dos orixás. Brasília, 1997. Filme documentário...", in: Afro-Ásia. Centro de Estudos Afro-orientais, Universidade Federal da Bahia, n. 21-2, 1998-9, p. 367-75.

Para ler o texto, basta clicar no ícone abaixo.


Para assistir ao documentário, basta clicar abaixo.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

Coleção "História Geral da África" da UNESCO

Publicada em oito volumes, a coleção produzida pela UNESCO conta com mais de trezentos pesquisadores coordenados por 39 especialistas, sendo dois terços deles africanos. Sua versão em português foi realizada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação do Brasil (MEC).


Os volumes abordam os seguintes temas:

I - Metodologia e Pré-História da África
Expõe o papel da História nas sociedades africanas, fontes que podem ser utilizadas para escrever a história do continente, os papéis da arqueologia e da tradição oral, as modificações paisagísticas que o continente sofreu, as ondas migratórias pré-"Homo sapiens", as origens e a expansão das técnicas agrícolas no continente africano.

II - África Antiga
Discute a origem do Antigo Egito, a consolidação do regime faraônico, os reinos concomitantes ao Egito como Kush, a cristianização da Núbia e o domínio romano sobre Cartago e sobre o Egito.

III - África do século VII ao XI
O Islã no continente africano, a expansão bantu, as relações da Etiópia com o mundo muçulmano e a diáspora africana na Ásia.

IV - África do século XII ao XVI
A unificação do Magreb, o império Haussa e o império Songhai.

V - África do século XVI ao XVIII
O reino do Congo, o Zambeze, os Luba e Lunda e as relações do Chade com o Mediterrâneo.

VI - África do século XIX à década de 1880
A investida europeia no continente, as revoluções islâmicas na África, Daomé e Benin e a diáspora africana.

VII - África sob dominação colonial, 1880-1935
A África e o desafio colonial, a partilha da África, resistências africanas, a economia colonial e os impactos do fato colonial.

VIII - África desde 1935
A construção das nações, a literatura moderna no continente, o Pan-africanismo, o socialismo no continente, a África e a ONU, horizontes para o século XXI no continente.

Para baixar a coleção, basta clicar no ícone a seguir.




O termo "Negritude"

Negritude foi um movimento de libertação cultural que teve como suporte a literatura. O termo criado por Aimé Césaire nos anos 1930 buscava tirar o peso negativo que a designação "negro" possuía. A iniciativa contou com o apoio de diversos escritores africanos de países que falavam o francês. Além de travar uma luta contra o colonialismo, Negritude defendia que a colonização havia alterado as maneiras de pensar das sociedades africanas, por isso, seria necessário um retorno às origens, valorizando as manifestações culturais tradicionais tais como a escultura e a metalurgia, as religiões, a tradição oral e as danças.
A seguir, há duas referências interessantes sobre o assunto, para acessá-las, basta clicar no ícone abaixo de cada uma.

AMORIM, Fernando, "Pan-africanismo intelectual: a utopia possível(?)", in: JANUS, 2010: Anuário de relações exteriores. Disponível em: <http://www.janusonline.pt/popups2010/2010_3_1_3.pdf>, acesso em 12/08/2014 às 10h01min.



CHANDA, Tirthankar, "Aimé Césaire et le mouvement de la Négritude", in: Les voix du Monde. Disponível em: <http://www.rfi.fr/afrique/20130626-aime-cesaire-centenaire-mouvement-negritude/>, acesso em 12/08/2014 às 09h59min.


sexta-feira, 28 de março de 2014

PROJETO NEGRITUDE: HISTÓRICO E OBJETIVOS


O Projeto Negritude é uma iniciativa que acontece na Escola de Aplicação da USP e tem por objetivo mostrar a história e a cultura dos povos de origem africana do mundo e discutir as questões étnico-raciais, tanto do ponto de vista cultural quanto político. Assim sendo, constitui-se como uma ação afirmativa com vistas a incentivar uma atitude positiva em relação à identidade negra, principalmente no que diz respeito à formação da identidade afro-brasileira.

O projeto teve início em 2004, em um movimento da comunidade escolar para articular ações em torno da questão do preconceito. Além disso, relaciona-se de forma direta ao tema transversal proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998 (a pluralidade cultural) e a Lei nº11.645 (sobre o ensino da história e cultura africana, afrobrasileira e indígena). Criou-se desta forma uma demanda interna de tornar visível a história e a cultura de origem africana na EA (Escola de Aplicação), reconhecendo-as como traços constituintes de todo e qualquer cidadão brasileiro.

As atividades do Negritude na EAUSP incluem a realização de atividades em aulas do Espaço Projeto, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio; a promoção de eventos com convidados (Semana da África e Semana da Consciência Negra); o estabelecimento de parcerias com professores da EA e com projetos especiais (Projeto Rappers, PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) e Programa Aprender com Cultura e Extensão); e a realização de encontros para aprofundamento do tema na forma de grupo de estudos.